Todo mundo sabe que coisa para fazer em dia de sol no Rio de Janeiro é o que não falta, mas do que a gente gosta mesmo são as atividades ao ar livre e no meio da natureza. Por isso, ficamos malucas quando ouvimos falar da Trilha Transcarioca, uma trilha de 170km ligando toda a cidade, de Oeste a Leste, pelas áreas remanescentes da Mata Atlântica. Como estou no Canadá e a Mari não pôde ir porque teve um imprevisto, nossa enviada especial, correspondente e mascote Paula Batalha foi se aventurar nessa nova trilha e agora conta pra gente todos os detalhes:
“Fiquei com muita vontade de fazer a Trilha Transcarioca logo que fiquei sabendo de sua criação e, por isso, aceitei de primeira quando o Felipe Hanower, carioca não diretamente ligado ao projeto da Trilha, mas que já tinha feito em um único dia 22km do trajeto, me chamou para ir com ele. Jornalista formado, fotógrafo profissional, escalador por esporte e guia sempre que possível, ele era a companhia ideal para me acompanhar na tarefa de fazer o maior percurso da trilha em um dia (e contar tudo aqui no blog depois). Foi uma aventura e tanto, que eu recomendo demais!
Aliás, uma das coisas que o Hanower fez questão de falar, com muito orgulho, foi que, para ele, ter a possibilidade do contato com tanta natureza pertinho de casa é uma oportunidade e um luxo que tem de ser muito valorizado e explorado com o devido cuidado, para que se torne mais seguro, atraente e se mantenha para sempre deslumbrante. Afinal, a Floresta da Tijuca é considerada a maior floresta urbana do mundo, um presente que os cariocas receberam e que deve ser tratado com muito carinho. O Rio de Janeiro é muito mais do que as praias, olha aí!

Mas antes de começar a contar como foi, acho importante falar…
Um pouco mais sobre a Trilha Transcarioca
– A Trilha é um projeto que ligará a cidade do Rio pelas áreas restantes da Mata Atlântica, conectando, por enquanto, sete Unidades de Conservação Ambiental cariocas. Você pode saber mais e acompanhar as novidades sobre a trilha na página do Facebook da Trilha Transcarioca.
– Dos 170km demarcados totais, hoje cerca de 100km estão prontos, sinalizados e já com manejo apropriado para a trilha. Quando a Restinga de Marambaia, uma outra Unidade de Conservação, for inclusa, serão 250km totais!
– O início previsto da trilha é em Barra de Guaratiba e o final é na Urca, com diversos níveis de dificuldade ao longo do trajeto. Se o caminho fosse ser todo feito em uma tacada só na parte demarcada hoje, a travessia levaria entre 17 e 25 dias.
– Existem vários pontos de acesso à trilha, como a Sede do Parque Natural Municipal de Grumari; a Subsede do Parque Estadual da Pedra Branca; o Largo do Bom Retiro; a Floresta da Tijuca; o Museu do Açude; a Mesa do Imperador; a Vista Chinesa; a Cachoeira da Gruta no Horto; o Parque Laje e a Ladeira do Leme, entre muitas outras possibilidades.
– O que se vê ao longo do caminho: antigas represas, cachoeiras, riachos, picos de montanhas com mais de 1.000m de altura, pontos turísticos, lindos visuais da cidade de ângulos poucos conhecidos, e fauna e flora muito ricas. Além de tudo isso, até dá também para visitar antigas fazendas de café, engenhos de açúcar e fortalezas militares.
– Embora seja uma trilha no meio da cidade, não há muitos pontos de parada para lanches e banheiro ao longo da maior parte do caminho. Em alguns trechos apenas de atravessa o asfalto, e até existem alguns perímetros urbanos, mas não conte com eles. Na maior parte da trilha você estará imerso na mata, então se encontrar uma barraquinha de cachorro quente já poderá considerar um grande achado.
Partindo para a nossa missão: Maior percurso possível da Trilha Transcarioca em 1 dia
5h40: Acordei e tomei um café da manhã reforçado para encarar a caminhada. A mochila já tinha sido arrumada no dia anterior e as máquinas fotográficas estavam carregadas e a postos.
Quem sai da Zona Sul do Rio pode pegar o metrô para a Tijuca e descer na estação Afonso Pena.
7h15: Ponto de encontro na estação do metrô Afonso Pena, Tijuca.
Taxi para o ponto inicial da Trilha, em média R$ 40,00. Como cabem até quatro pessoas no carro, esse valor pode ser dividido.
8h: Início da trilha pela Estrada Grajaú- Jacarepaguá, próximo ao hospital Cardoso Fontes. Sigam as pegadas!

Entramos pela mata e, nesse ponto da trilha é possível perceber que foi um caminho produzido pelo homem em alguma época e agora vem sendo absorvido pela mata. Esse ponto foi um terreno das companhias de abastecimento de água da cidade, parte da área também conhecida como Represa dos Ciganos, por isso os canos antigos e largos ajudam a compor a paisagem.

Logo o trajeto muda, e aquele passeio fácil com passagem larga se transforma em trilha estreita, com o primeiro grande desafio à vista: uma subida íngreme. Haja panturrilha, nunca gostei tanto de ter um bastão de caminhada.
Primeiros 4 km concluídos, ainda com um muita água por perto. No entanto, Hanower avisa para aproveitar a água geladinha do Lajeado, que será nosso último ponto com acesso à água durante muito tempo de percurso.

E anda e anda e anda…. o silêncio da mata é o que mais impressiona. Mesmo sendo uma floresta urbana tão próxima a uma metrópole, a sensação de estar desbravando a floresta é fantástica, mas claro que é só uma sensação mesmo. Como disse antes, a maior parte de toda a trilha está bem sinalizada, esse trecho que escolhemos tem muitas placas e o símbolo da trilha – ‘a pegada amarela’ – pintado em árvores e pedras.
De tempos em tempos vamos percebendo a mudança da vegetação, com mais bambuzais e outros tipos de folhagem forrando o caminho. Desde criança aprendi que onde tinha bambuzal era provável encontrar cobras, e o Felipe e o Pedro, que passaram por esse trecho quando fizeram juntos os 22km em um dia, contaram o encontro tenso deles com uma cobra preta e amarela. Por sorte não tivemos um encontro assim ( ufa!), mas os macacos nos seguiram por um tempo nas copas das árvores.
Outra consequência do tipo de vegetação seca e a mudança do solo durante o passeio é o festival de escorregadas. Claro que eu e também o Pedro Kebudi, companheiro de trilha não escapamos de uns tombos de leve por pura distração, mas nada que gerasse mais do que alguns arranhões na autoestima haha

E pensar que uma grande parte de toda essa área da Floresta da Tijuca já foi ocupada por grandes fazendas de café e hoje é praticamente uma floresta com vegetação de característica primária! (mesmo sendo de replantio) Isso temos que agradecer a Dom Pedro I, que ordenou a retirada dos cafezais e o replantio da floresta em 1861, ao perceber que sem a floresta a água da cidade acabaria. (Um assunto tão atual e ao mesmo tempo tão óbvio já lá em 1800…)
Um dos pontos altos do passeio (literalmente) é o Pico do Cocanha, a 982m do nível do mar. Do topo de um pedregulho é possível ver a floresta e cidade pequenina lá longe, e logo depois, num outro trecho da trilha, vemos a soberana e maravilhosa Pedra da Gávea.
Lá de cima a gente vê um horizonte sensacional, e olha que nem é o ponto mais alto da floresta. Dava para ver até o Dedo de Deus lá atrás!





Quando eu achava que já tinha visto um pouco de tudo que a trilha tinha para oferecer, nos deparamos com instalações fixas e temporárias do Museu do Açude; uma bifurcação para trilha de downhill de bike; mirante para ver a floresta exuberante; bica de água da nascente e a estrutura histórica onde missas eram celebradas lá nos tempos antigos. Ao chegarmos perto da administração do Parque Nacional da Tijuca, nem deu para acreditar que havíamos começado de tão longe como mostrava o mapa da instalação.
As 16h30 completamos os quase 19km de caminhada, com uma deliciosa parada estratégica na barraquinha do senhorzinho do Alto da Boa Vista. Aquelas comidas pareciam até uma ilusão de ótica! haha
Missão cumprida! Um dia sem celular e com muita história para contar. Não deu para completar os 22km como o Hanower já fez, por questões de segurança: o próximo trecho era bem puxado, principalmente para quem já estava caminhando desde cedo, e descer a trilha no escuro não estava nos nossos planos. Mas não estamos considerando isso uma derrota, será uma oportunidade de começar bem cedo esse novo trecho e ainda passar por mais cachoeiras, picos da cidade e mais trechos da floresta deslumbrante. Morar no Rio é mesmo uma sorte e tanto!








Até o próximo trecho, e que seja logo! Vamos?”
O que você precisa saber para fazer a Trilha Transcarioca:
– Leve uma mochila confortável, com muita água e isotônico – mesmo no meio da mata o famoso calor do Rio não some. Sanduiches, biscoitos, frutas, barrinhas de cereais e outros alimentos leves de carregar, mas que reponham energia durante o caminho. (Sempre confirme com o guia as quantidades para não faltar nem carregar peso em excesso).
– Vista roupas leves, mas que protejam contra arranhões, picadas etc. Calça e camisa confortáveis (por experiência própria indico camisas com proteção UV e/ou dryfit), meias e tênis de trilha e/ou que esteja acostumado a usar, boné e óculos escuros. Não esqueça de passar protetor solar e repelente também.
-Tudo que você levar para a trilha precisa ser trazido de volta, principalmente o seu lixo. Conservar a natureza faz parte do espirito do montanhismo. Não há lixeiras e você é responsável por manter a trilha limpa e protegida, o que inclui também cuidados para fazer suas necessidades fisiológicas pelo caminho.
– E duas dicas do guia Felipe Hanower para quem for percorrer longas distâncias:
1# Invista na mochila com reservatório de água (3L). É aquele que você coloca dentro da mochila e com a mangueirinha de acesso pode beber água constantemente durante a caminhada sem se obrigar a fazer paradas para abrir a mochila e pegar a garrafinha.
2# Bastão de caminhada: abuse dele para garantir a melhor qualidade da sua caminhada pela trilha, com bem menos cansaço.
Ficou com vontade de conhecer a trilha transcarioca?
O Felipe Hanower oferece passeios guiados por lá. Para saber valores e mais detalhes, é só dar uma ligada para ele no telephone +55 (21) 98816-1115.

[…] Testamos a Trilha Transcarioca: Passeio novo, diferente e lindo no Rio de Janeiro […]
Muito bom! Amei as fotos, mas fiquei tinta com a velocidade do vídeo….
Muito legal seu relato. As fotos ficaram ótimas!
Só tenho uma correção:
Acredito que em ordenou reflorestar foi D. Pedro II.
Digo isso porque D. Pedro I abdicou do trono em 1831, então o filho dele é que era o monarca em 1861.
Outro detalhe, é que D. Pedro I não estava nem ai para o Brasil (Doidera isso né?). Mas D. Pedro II sim, era preocupado com o país. Incentivando a cultura, a natureza, a tecnologia e a arte. Consciência ambiental é mais a cara do Pedroca barbudo. 😉
Abraços!!!
Olá! Acabo de ouvir falar sobre essa trilha e estou começando os planejamentos. O que pode ser dito sobre a segurança pública? É algo que temos de nos preocupar? Vi que passa ao lado de favelas.
Geralmente ando com minha esposa e não seria legal dar de cara com assaltos no meio do mato.
Vi que há alguns casos em trilhas perto do centro. Esse assunto é importante de ser discutido.
Oi, Marco,
Não sabemos bem como está a segurança de toda a trilha hoje. Mas sabemos que existe uma preocupação com a segurança e várias sinalizações para não sair da trilha. Mas sim, infelizmente existem favelas por perto e o Rio de Janeiro não é uma cidade totalmente segura. :/ No fim do post colocamos o contato do Felipe, que oferece passeios guiados por lá. Pode ser uma boa marcar com alguém super experiente e conhecedor do lugar. Pra facilitar, o telefone dele é (21) 98816-1115. Beijos e esperamos ter ajudado!