Trekking na Islândia: As principais trilhas na região de Thórsmörk e arredores

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Conheça as principais e mais lindas trilhas da Islândia!

A Islândia já ocupa há tempos uma das primeiras posições na lista de lugares que queremos visitar, por isso, quando soube que a minha amiga Isadora Alfers tinha ido para lá, pedi logo para ela contar um pouco aqui para o Viajadora como foi a experiência. O resultado foi que ela contou sobre as trilhas que fez por lá e deixou a gente com muito, muito mais vontade ainda de fazer essa viagem. Confira:

“Depois de encarar a primeira trilha na Islândia, é inevitável ficar viciado em andar por todos os lados daquele país encantador. Cada passo parece desvendar alguma coisa magnífica e é fácil se convencer de que o melhor meio de transporte na ilha são as nossas próprias pernas. E mesmo depois de muitos dias de caminhadas e tendo rodado o equivalente a pé a um ônibus circular no Rio de Janeiro, você vai continuar, se possível, com a perna cheia de de óleo de arnica para aliviar a dor muscular. Simplesmente porque o melhor da Islândia – a natureza e a beleza impressionantes – só pode ser alcançado caminhando, subindo pedras, atravessando pontes de gelo, desafiando a gravidade em montanhas inclinadas – e pedindo a Deus pra voltar uma ovelha islandesa na próxima encarnação.

Em junho de 2015 eu conheci apenas um pouco da Islândia e todas as melhores recordações da viagem estão relacionadas às trilhas e ao contato com a natureza. A ideia inicial era fazer a caminhada de quase 100 km que liga Landmannalaugar a Skógar, na famosa trilha Laugavegur, o sonho de todos os aventureiros que miram o país. Infelizmente, a trilha, que geralmente abre no meio de junho, ainda estava interditada por causa do rigoroso inverno, e muitos trilheiros decepcionados que encontramos ainda tinham esperança de ver o caminho aberto durante o tempo que ficariam no país.

Mas havia opções… E quantas! Compramos passagens de ônibus para o sudeste da ilha e avançamos até Thórsmörk, um vale repleto de montanhas, cânions e trilhas que compensavam cada metro caminhado.

A região de Thórsmörk

A região que conhecemos da Islândia é muito bem preparada para receber pessoas que queiram acampar e fazer trilhas. O único porém é a alimentação, mas um viajante organizado pode evitar qualquer perrengue se carregar a comida para todos os dias que for ficar acampado. O problema é que, obviamente, no meio da natureza, apenas os campings têm restaurantes ou cantinas. E o preço da comida, que já é muito alto na Islândia em geral, fica ainda mais caro nesses lugares. Sem contar que a qualidade é muito baixa para o que você irá pagar. Portanto, leve o seu fogareiro (alguns campings têm cozinha com fogãozinho), comidas secas, miojos, sopas de saquinho e tudo mais que possa ser preparado com facilidade para evitar passar fome ou ter de oferecer o corpo para pagar a comida do acampamento.

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Nossa barraca no acampamaneto Skaftafell e o cenário de montanhas atrás (foto: Matthias Alfers)

Por falar nos acampamentos, nem todos são encontrados com facilidade na Internet. Antes de viajarmos, fizemos uma pesquisa no google por campings em Thórsmörk e encontramos apenas um camping. Aparentemente, aquele era o único lugar pra ficar na região. Chegando lá, encontramos pelo menos mais dois acampamentos próximos ao que ficamos. Por isso, vale a pena ler mais dicas de pessoas que já viajaram pelo local, pode ser que você encontre alguma informação que não vai achar em uma busca simples na Internet.

Um ponto muito positivo é o fato de que os acampamentos são bons e cada um tem regras e estruturas diferentes, mas praticamente todos têm mapas de trilhas à venda para os visitantes. Nesses mapas, você encontra todas as trilhas marcadas, as atraçõs – vulcões, mirantes, cachoeiras, o nível de dificuldade e o tamanho dos percursos. Dá pra perceber que eles procuram manter os caminhos bem marcados, para proteger a natureza e para evitar que os trilheiros sofram acidentes. Existem inclusive vários grupos de voluntários que trabalham nas trilhas, fazendo escadas, pontes e melhorando as marcações. Eu conversei com um deles e fiquei sabendo que recebem moradia, comida e deslocamento de graça durante o período de voluntariado. Nada mal, né? 🙂

As principais trilhas de Thórsmörk

Sem mais conversa fiada, vamos às trilhas. Você vai ver que encontrar energia para fazer mais uma trilha é mais fácil do que escolher qual delas é a mais bonita, mas fica a dica de cinco trilhas imperdíveis:

Trilha da montanha Valahnúkur

A trilha da montanha Valahnúkur, em Thórsmörk, é considerada de nível médio, leva mais ou menos 1h30m e percorre cerca de 1,5 km, com 470 m de subida. Ela começa na parte de trás da recepção do Volcano Huts, onde fica um dos acampamentos da região, e leva até o pico da montanha Valahnúkur, com vista privilegiada do vulcão Eyafallajökull, aquele simpático que entrou em erupção em 2010 e fechou vários aeroportos na Europa, lembra?

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A vista do topo da montanha Valahnúkur (foto: Matthias Alfers)
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Placa na montanha apontando para o vulcão e indicando as direções (foto: Matthias Alfers)

Essa trilha reserva muitas surpresas. Logo no início, se desviar um pouco dela, vai encontrar uma pequena queda d’água com uma caverninha onde provavelmente vive um minitroll. Dá até pra arriscar uma escaladinha nas pedras e tentar ver se o Trollzinho está em casa. Depois disso, é voltar para o caminho e começar a subida. No meio da trilha, antes de enfrentar a parte mais difícil do trajeto, existe um ponto bom para fazer uma pausa, com essa vista incrível do vale:

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Vista do vale Valahnúkur (foto: Matthias Alfers)

Dali, é seguir subindo até o ponto mais alto, o ápice da trilha: vista para o vulcão, canyons e glaciers. Só vai ficar difícil querer descer depois e deixar para trás essa vista tão maravilhosa!

Tindfjöll Circle

A segunda trilha mais legal e, talvez, mais perigosa que fizemos foi a trilha Tindfjöll Circle. Saimos pelo lado do acampamento do Volcan Huts, onde ficam as barracas, e seguimos por um caminho que levava a outro acampamento, o Langidalur Huts, e passava pela entrada do Landmannalaugar. Depois dessa primeira etapa, começa a subida nas montanhas Tindfjöll, até chegar ao ponto com essa vista dos canyons:

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O que se vê do alto da montanha Tindfjöl  (foto: Matthias Alfers)

A caminhada segue mais para cima e continua na conexão com outras montanhas. Aí, tudo começa a ficar um pouco mais arriscado. A montanha seguinte tem trechos bastante inclinados, onde a areia e as pedrinhas fazem os pés escorregarem. Existem alguns pontos planos, como o local onde está a caverna Tröllakirkja, onde certamente habita um outro troll, e de onde a vista é fenomenal.

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Olha lá a caverna Tröllarkirkja! (foto: Matthias Alfers)

Riachos, pedras com formatos curiosos empilhadas de forma a desafiar a física, montanhas com neve, cachoeiras, tudo para valer todo o perigo. Além disso, em junho, ainda havia muitas pontes de gelo no caminho e a travessia por elas exige coragem e pés firmes. Infelizmente, tivemos que interromper a trilha alguns quilômetros antes do final por causa de uma dessas pontes. Observamos e concluimos que ela estava derretendo por baixo e não tínhamos noção se ela ainda estava firme para nos aguentar. Por isso repetimos um pouco do caminho de volta, mas conseguimos pegar um desvio em um ponto e fomos beirando um riacho até chegar embaixo.

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Ponte de gelo Thorsmork (foto: Matthias Alfers)
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É preciso tomar muito cuidado na trilha nos arredores da ponte de gelo Thorsmork (foto: Matthias Alfers)

 

Trilhas em Skaftafell

Mais para o leste, chegamos ao parque nacional Vatnajökull, onde fica Skaftafell.

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Skaftaffell e a vista maravilhosa! (foto: Matthias Alfers)

O parque também ainda tinha algumas trilhas fechadas por causa da neve e dos riscos para os visitantes, então fizemos todas as outras opções de trilhas que estavam abertas e as que mais gostamos foram:

Trekking na Islândia: Trilha para Svartifoss

Svartifoss, ou cachoeira negra, é a maior atração do parque. Várias trilhas passam pela cachoeira, mas existe uma trilha que leva direto a ela e sai do lado do acampamento. Ela é considerada fácil e tem outras atrações no caminho, como cachoeiras escondidas atrás de galhos, árvores e mirantes para o parque. O ponto alto, claro, está na chegada a Svartifoss, a cachoeira que parece um gigante orgão de igreja, muito bonita, imponente e fotogênica.

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Uma das muitas paisagens da trilha para Svartifoss (foto: Matthias Alfers)
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A cachoeira incrível de Svartifoss (foto: Matthias Alfers)
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Mais algumas das vistas que se tem da trilha de Svartifoss (foto: Matthias Alfers)

Trekking na Islândia: Trilha até Kjós

Por fim, tentamos fazer a longa caminhada até Kjós, um trajeto de 28km. Saimos pelos fundos do acampamento e seguimos por um caminho que iniciava com algumas pequenas quedas d’água. Depois, começamos beirando o rio por uma região que parece um deserto de areia negra, até alcançarmos um pequeno campo onde as flores roxas mudavam a paisagem completamente.

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Início da trilha até Kjós (foto: Matthias Alfers)
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(foto: Matthias Alfers)
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Paisagens lindas e muitas paradas para fotos! (foto: Matthias Alfers)

A trilha segue por dentro do campo até quase alcançar as montanhas. Chegamos a um ponto bastante alagado e difícil de passar já quase em Kjós, quase na altura do lago Morsárlón. Tivemos de abandonar mais uma vez a trilha e seguimos de volta pelo campo. Em vez de voltar pelo deserto, emendamos em uma outra trilha considerada difícil que subia uma pedra bastante alta e tinha vista para os glaciers e as montanhas. Após a subida, seguimos pelo caminho que levava a Sel, onde fica a casa feita de pedra e madeira que pertence ao museu nacional, onde morou uma família de fazendeiros.

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(foto: Matthias Alfers)
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(foto: Matthias Alfers)
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(foto: Matthias Alfers)

Continuamos na trilha auxiliar e encontramos um esconderijo lindo, um lugar que servia para separar as ovelhas de suas crias para serem ordenhadas. Nesse lugar, o reflexo das árvores na água é belíssimo e o banquinho é um convite para mais uma parada.

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O espelho d’água é um ótimo ponto para descansar e aproveitar a calma e a beleza da região próxima a Kjós (foto: Matthias Alfers)

>>> Por fim, pode parecer um pouco frustrante ter que abandonar uma trilha, mas é importante saber julgar se vale a pena correr o risco de continuar. Na Islandia, não era tão ruim assim, porque as trilhas são geralmente interligadas e você sempre pode fazer um caminho diferente do caminho da ida. Portanto, leve em consideração todas as limitações e, sempre que tiver algum risco, não pense duas vezes para abortar a missão. É sempre a melhor decisão!

Acampamentos na Islândia

O acampamento do Volcano Huts, onde ficam as trilhas da montanha Valahnúkur e Tindfjöll Circle, tem uma cozinha com mesas, cadeiras, aquecimento e um fogãozinho elétrico para o pessoal que está acampado. Também, dentro desta área, tem um pequeno depósito onde as pessoas deixam coisas que nao querem mais e podem ser reaproveitadas por outras, como gás para fogareiro e comidas embaladas em pacotes ainda fechados. O banheiro é compartilhado e separado entre área feminina e masculina. As duchas com água quente são gratuitas para os hóspedes do acampamento. No centro de recepção aos visitantes funciona um restaurante, onde são servidos café da manhã, almoço e jantar. Nehuma refeição está incluida no valor da diária do acampamento. Na recepção, também é possível comprar os mapas com as trilhas demarcadas, olhar a previsão do tempo e os horários e rotas dos ônibus que passam pelo acampamento. A diária custa 2000 ISK (aproximadamente 14 euros) e inclui também acesso à sauna (infelizmente, não estava funcionando durante a nossa visita) e à pequena piscina natural aquecida. Nós levamos nosso próprio equipamento: barraca, sacos de dormir, colchão térmico, toalhas e os utensílios para cozinhar. Não encontrei informações sobre aluguel de barraca e todas as pessoas que estavam acampadas carregavam a própria barraca. Vale lembrar que, além da área do acampamento, o Volcano Huts tem cabanas para alugar, mas não conheci a estrutura para falar se são boas ou não.

O acampamento de Skaftafell, onde estão todas as outras trilhas, tem uma área enorme para barracas. A estrutura oferece estacionamento, duchas individuas que custam aproximadamente 2,50 euros por 5 minutos de água, banheiro e lavanderia. Também tem um café/lojinha que vende alguns produtos básicos, como pão, queijo e gás (tudo bem carinho) e serve café e sanduíches. O café também é onde o pessoal se reúne para usar o WIFI gratuito e recarregar as baterias de celulares e computadores. Do lado, fica o centro de recepção aos visitantes, onde funciona uma pequena livraria e loja de souveniers, onde é possível obter informações sobre as condições das trilhas, a previsão do tempo e comprar o cartão de acesso às duchas e à lavanderia. Na entrada do parque estão instaladas duas operadoras de turismo que oferecem passeios pela região, como o glaciers walking. Nós novamentes usamos todos os nossos equipamentos, mas havia grupos grandes acampando em tendas comunitárias. Não sei se foram alugadas no próprio parque, não encontrei essa informação. Na área do acampamento, fica um trailer que vende fish and chips, espetinho de carne de carneiro e sopa de lagosta – carinhos para a quantidade, mas muito gostoso (o carneiro, pelo menos). Vale lembrar: não tem cozinha! Garanta um fogareiro e leve a comida, vai fazer uma diferença enorme no bolso. A diária do acampamento custa 1500 ISK (aproximadamente 10 euros).


Isadora PereiraSOBRE A AUTORA: Isadora é publicitária de origem Gonçalense, nasceu na região metropolitana do Rio, e infância baiana, viveu até os 12 anos perto de Salvador, até retornar às raizes cariocas. Deixou mais uma vez a terra natal em 2010, quando mudou para a Alemanha, onde trabalha como editora do Checkin, o blog da Trivago. Sofre de dois males incuráveis: as paixões pela literatura e pelo mundo. Daí, estipulou que o melhor souvenir de uma viagem é um bom livro. Já percorreu 16 países, a maioria na Europa, e está flertando com o Oriente há algum tempo.




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