De acordo com a Wikipedia, templo é uma estrutura arquitetônica dedicada ao serviço religioso. Mas o site acrescenta que o termo pode, também, ser usado em sentido figurado, como “o reflexo do mundo divino” ou “a habitação de Deus sobre a terra”. Definições que parecem muito acuradas para quem viaja e sabe bem que, nas andadas mundo afora, de vez em quando a gente se depara com lugares que se encaixam perfeitamente na descrição de morada divina. Esse é o caso da Cachoeira da Fumacinha, a queda d’água mais escondida da Chapada Diamantina, em um lugar tão majestoso que parece, mesmo, ser um daqueles que o Criador fez para sentar e admirar em seus momentos de descanso.
E para manter sua privacidade, Ele foi caprichoso: fez da trilha para lá uma das trilhas de um dia mais longas da região, que é pra gente dar valor quando chega depois de cinco horas de caminhada por 9km pelas pedras do rio Riachão. A perspectiva da andança, no entanto, cansa mais do que a caminhada em si, que tem várias paradas e muita sombra ao longo do caminho. E a visão do poço da Cachoeira da Fumacinha, cercado de paredões rochosos e muito verde em meio a um silêncio quase absoluto –não fosse pela queda d’água de 100m de altura – reduz o cansaço, com o perdão do trocadilho infame, a fumaça em meio a tanta beleza.
Mas agora chega de papo furado e vamos ao que interessa:
Caminhando até a Cachoeira da Fumacinha
Falaram tanto que a trilha até lá era tããão puxada, a ponto de várias pessoas desistirem e voltarem no meio do caminho, que ficamos impressionados e, por isso, fizemos uma preparação de guerra para o percurso. Levamos várias garrafas de água e um monte de lanches para garantir a energia suficiente para a caminhada. Claro que tudo foi consumido sem sobras porque somos dragas, mas essa não foi, nem de longe, a trilha mais dura que já fizemos, e tanta preocupação nem era necessária.

O caminho é dividido em duas partes: uma por terra, ladeando o rio e os paredões da Serra da Bocaina, e a outra, mais longa, pelas pedras. A parte de terra é bem tranquila, sem subidas e nada de cansaço. Fomos conversando, parando para admirar a paisagem de mata atlântica e, depois de uns 45 minutos, quando já estávamos bem no finalzinho, prestes a começar o trajeto pelas pedras do rio, ouvimos um latido e aquele barulho de babar e arfar que os cachorros fazem. Olhamos para trás e qual não foi nossa surpresa ao ver que os sons vinham do Amendoim, o vira-lata do nosso guia, que correu atrás do carro e depois foi seguindo nossos rastros até nos encontrar na trilha. Nós o recebemos com muita festinha, mas seu dono, o Luciano, ficou tentando enxotá-lo, porque animais de estimação não são permitidos no parque. Porém, como nada para um vira-lata aventureiro, acabamos cedendo e ele nos acompanhou até o fim.
A parte da trilha pelas pedras e dentro do cânion é a mais legal, mas também a mais cansativa, porque você pula o tempo todo de uma pedra para a outra e às vezes tem de atravessar o rio pelas pedras também. É uma aventura e tanto, com paradas para descanso em cachoeiras e lagos menores lindos, e quando a gente se aproxima da Cachoeira da Fumacinha, o caminho fica ainda mais bonito, com uma vegetação muito rica nas margens, com muitas bananeiras e palmeiras.








O fim da trilha: que lugar mágico
Quanto mais perto a gente vai chegando da cachoeira, mais o cânion se estreita e a vegetação fica mais intensa. Ainda não dá para ver a queda d´água, mas já se avista a Catedral da Fumacinha, com paredões enormes de rochas brancas e plantas que parecem ter saído do filme Parque dos Dinossauros. A sensação é de que você está em um lugar parado no tempo e a qualquer momento um pterodátilo vai passar voando por cima da sua cabeça.

Ainda leva mais uns 15 minutos de caminhada até que se aviste a queda d´água. Depois de mais alguns minutos – e uma escaladinha meio tensa – você finalmente chega de frente para a Cachoeira da Fumacinha. E aí, a vista é absolutamente inesquecível: são cerca de 500m de profundidade, e os paredões rochosos têm uns 300m de altura. A água cai de uma altura de 100m, de um cânion lateral. Como as paredes são negativas, dizem que nunca bate sol lá dentro, então tudo é recoberto de musgos e líquens. A temperatura lá é mais baixa e a água do poço gigante, mais fria do que o normal de uma cachoeira. O único barulho que se ouve é mesmo o da queda d´água, e diante de tudo isso, é impossível não ficar impressionado e bastante embasbacado.







Aqui vai um videozinho que fizemos com a chegada na cachoeira. Nao da para ter a exata noção do que é aquilo lá, mas já dá uma ideia:
Como a trilha de volta leva o mesmo tempo da ida, não dá para ficar mais de uma hora na Cachoeira da Fumacinha, para evitar voltar andando nas pedras à noite. Mas uma hora é tempo suficiente para se maravilhar, nadar até a queda d´água, tirar muitas fotos e fazer aquele lanche reforçado para recuperar as forças e ficar pronto para a outra jornada.


Onde fica a Cachoeira da Fumacinha
A cachoeira fica no extremo sul do Parque Nacional da Chapada Diamantina, que pega os municípios baianos de Mucugê e Ibicoara, distantes 70km um do outro. De Ibicoara, a cidade mais próxima, são 2h de carro até o lugar onde se inicia a trilha, por isso o melhor é dormir no Povoado do Baixão, distante apenas uns dez minutos. A gente fez isso e achou um lugar ótimo por lá: a casa do guia Luciano e sua esposa Tâmara. Gostamos tanto de lá que fizemos um post bem detalhado sobre como foi bom ficar na casa deles e dando todas as instruções para marcar e chegar lá.
Quando ir
Fomos no início de fevereiro e não tivemos nenhum problema nem pegamos chuva na viagem. Mas dizem que é bom evitar o período de dezembro a maio, quando chove mais na região e é mais provável a incidência de cabeças d´água, incidente natural que pode ser bem perigoso para quem anda por rios e cachoeiras.
Média de despesas por pessoa no dia:
- Lanche para levar na trilha (comprado no mercadinho em Ibicoara: biscoitos, barrinhas de cereal, sanduíches de atum e água): R$ 14,00
- Guia da Associação Bicho do Mato: R$40,00
- Jantar (banquete) + diária na casa do Luciano e da Tâmara no Baixão (tudo explicadinho no post sobre onde ficar na Chapada Diamantina (Abrigo do Mato): R$ 75,00.
obs: Rodamos a Chapada Diamantina com o carro 1.6 que alugamos lá e, durante os 7 dias que dirigimos (foram 6 diárias de aluguel), o valor total gasto em combustível foi R$ 440, ou seja, R$ 110,00 por pessoa. O aluguel do carro por todo o período ficou em R$ 665,00, ou R$ 166,25 por pessoa.
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Outros posts sobre a Chapada Diamantina:
Chapada Diamantina: roteiro para ver o máximo possível em 5 dias
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Pois é… minha sensação nessa cachoeira foi exatamente essa mesmo. Aí é a casa de Deus na Terra.
Outro post massa, gurias!
A gente ficou muito encantada com a Fumacinha, Tom! Graças a você e suas dicas fomos lá. Foi a melhor coisa que fizemos, muito emocionante. 🙂 Beijão! :*
[…] é, sem dúvida, a mais bonita (a mais majestosa é a Cachoeira do Buracão, ou, pensando bem, a Cachoeira da Fumacinha, tô na dúvida hehe). Não pela queda d’água em si, que é pequena e bem forte, mas pela […]
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[…] do Parque Natural Municipal do Espalhado, nos arredores das trilhas das cachoeiras do Buracão e da Fumacinha. Por causa disso, é uma opção muito prática e em conta para quem deseja visitar as duas […]
[…] completas sobre a visita à cachoeira da Fumacinha, com fotos e custos, no post Roteiro pela Chapada Diamantina: Cachoeira da Fumacinha […]
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Excelente relato. Estou programando uma trilha no Pati e quando vi as fotos da Fumacinha, fiz questão de incluir na programação do pacote, junto com o Buracão. Mas poucas agências fazem o roteiro, acredito por ser pouco ‘comercial’, e vi muitos relatos na WEB da dificuldade do caminho, o que, mesmo julgando ter um bom condicionamento e bons km de trilhas percorridas, me colocou em dúvida se não estaria me colocando em uma perigosa roubada. Com seu relato e a quantidade de fotos sequenciais foi possível ter uma ideia melhor do que me espera. Valeu a valiosa contribuição.
Oi, Marcus,
Esta trilha do Pati está na nossa lista. Infelizmente não conseguimos encaixar na mesma viagem, mas deve ser muito incrível! Aproveite bem! Sobre a trilha da Fumacinha, nós também estávamos bem apreensivas, mas apesar de bastante longa, ela é tranquila, sem trechos de muito esforço físico (ao contrário da trilha para a cachoeira da Fumaça, por exemplo – https://www.viajadora.com/roteiro-pela-chapada-diamantina-cachoeira-da-fumaca-e-mucuge/). Nos surpreendemos bastante e vimos pessoas de todas as idades no caminho. Por saber que a trilha é longa, nós optamos por ficar o mais próximo possível da entrada da trilha, e foi aí que escolhemos a casa do Luciano (https://www.viajadora.com/onde-ficar-na-chapada-diamantina/), que é o mais próximo de lá que conseguimos. Recomendamos muito a estadia dele, foi uma experiência incrível e ele como guia também é ótimo. Mas, se você precisar ficar em outra base, opte por Ibicoara, que é a cidade mais próxima de lá. Temos certeza que você vai amar a cachoeira da Fumacinha, vale muito a pena incluí-la no roteiro mesmo, é uma das mais incríveis que já vimos. 🙂 Depois conta pra gente o que achou, vamos adorar saber! Beijos! :*
Essa escalada tensa no final da trilha é perigosa?
Oi, Fabio! A gente disse que a escalada é tensa só porque cansa um pouco, de ter que ficar atento e andar nas pedras, mas não é perigosa não. A única observação que a gente faz é pra quem é mais idoso ou tem algum problema físico, que aí vai ser mais complicado fazer a trilha mesmo. No mais, é só ir com atenção e cuidado que dá para tirar de letra!
Beijos
Oi Thaís e Mariana, tudo bem?
Parabéns pelo blog! Muito obrigado pelas dicas, elas são ótimas!
Fiquei com um dúvida sobre o valor, vocês colocaram “Guia da Associação Bicho do Mato”, 40 reais por pessoa. esse valor se refere ao Luciano? Ou algum outro guia?
Muito obrigado!
Oi, Paulo!
Que legal que está curtindo o blog. 🙂 Sobre o valor de R$ 40,00, sim, este foi o valor que pagamos para o Luciano sim, é que o valor da guiada até a Fumacinha era o mesmo para todos os guias da Associação. De qualquer maneira, vale ressaltar que estes valores são de 2014, quando fizemos a viagem. 🙂 Um Beijo! :*