O terremoto de proporções avassaladoras que devastou o Nepal no dia 25 de abril – seguido de vários outros tremores menores – atraiu a atenção da mídia internacional para o país asiático por algumas semanas. Agora, mais de um mês se passou, outras notícias vieram e já quase não se fala mais nas dificuldades que o povo nepalês está passando, mas eles continuam precisando de muita ajuda.
Até mais do que as doações, o retorno do turismo, a principal fonte de renda do Nepal, é a maior necessidade para que o país se reerga e volte a ser o destino de viagem deslumbrante a povoar os sonhos dos aventureiros mundo afora. Pensando nisso, entrevistamos o João Ricardo Marincek, da Venturas Viagens, para saber a opinião dele sobre quanto tempo deve demorar até que o turismo por lá ganhe força novamente. Ele é uma das pessoas mais indicadas para falar sobre isso: não só leva grupos há mais de 20 anos para fazer trekking pela região do Campo Base do Everest e Anapurna, como estava lá com um grupo no momento do grande terremoto e viu de perto todas as suas consequências. Agora o Jota, como é mais conhecido, conta pra gente tudo o que viu e como acha que será o retorno do turismo no Nepal.

Viajadora – Onde você estava no momento do terremoto? Sentiu os tremores?
Jota – Estávamos em um pequeno lodge, junto com mais umas 25 pessoas e havíamos acabado de pedir o almoço. Sentimos o tremor que começou aos poucos e foi aumentando rapidamente e fazendo muito barulho, como um grande trovão. Depois diminuiu para voltar a crescer e cessar. Todo o processo durou pouco mais de 40 segundos.
Houve destruição na área onde estava?
Não houve nada grave. Era um entreposto com poucas construções, só dois ou três lodges, e o maior prejuízo foi uma trinca na parede.
Como você e seu grupo se sentiram depois do terremoto, quando chegaram nas cidades e vilas e elas estavam destruídas?
No momento foi assustador e teve gente suplicando para sair de lá imediatamente, mas logo tudo se acalmou e retornamos ao lodge para tomar nossa sopa e depois seguimos caminhando debaixo de neve. Não sabíamos o tamanho da tragédia e só quando chegamos em Dhole, onde estava previsto nosso pernoite, começamos a nos dar conta do estrago.
Havia casas parcialmente destruídas logo na entrada da cidade e naquele exato momento uma pequena réplica do terremoto obrigou os moradores a ir correndo para fora com medo de desabamentos. Este foi o momento mais difícil para mim, pois além da tristeza de ver aquelas casas e a situação das famílias, temi pela nossa sorte, pois não sabia se teria local seguro para dormirmos e estava muito frio. Por sorte, encontramos um lodge com os quartos construídos em madeira e, por isso, sem avarias. Passamos por mais dois tremores (um à noite e outro mais forte na hora do almoço, quando completou 27 horas do primeiro tremor). Mas é incrível como o ser humano vai se adaptando… bastava ficar atento a possíveis tremores e todo mundo já saía para um local descampado.

Qual a sua opinião sobre a reação do povo do Nepal à tragédia?
Em todos esses anos acompanhando grupos no Nepal, sempre encontrei um povo muito solícito e atencioso para com as necessidades dos integrantes dos grupos, e não foi diferente o que aconteceu dessa vez. Com essas características, acho que a reação foi bastante positiva, pois logo se instaurou uma rede de solidariedade. Vi cenas de muita desolação e tristeza, mas também vi a vida que renasce a todo instante buscando seu espaço em meio à tragédia.
Por sorte os membros da equipe nepalesa que nos acompanhavam não tiveram perdas familiares, mas certamente todos tiveram perdas materiais e tinham amigos em suas cidades/vilas que precisavam de ajuda, mas mesmo assim permaneceram ao nosso lado visando sempre o nosso bem estar. Somos muito gratos a eles e por esta razão nos comprometemos pessoalmente em ajudar a levantar fundos para que pudessem reconstruir suas casas.
Muitas das atrações turísticas e vilas mais conhecidas do Nepal foram bastante afetadas pela tragédia, como é o caso da Durbar Square, que ficou bem destruída. Você acha que o turismo por lá vai voltar a ter a mesma força que tinha antes?
Tenho certeza que sim e que voltará mais fortalecido. Exatamente como acontece em nossas vidas sempre que um “terremoto” nos abate: é sofrido, dói, mas passado um tempo nos reerguemos mais fortes do que antes. O Nepal é um país com uma riqueza cultural sem igual e detentor de algumas das paisagens naturais mais incríveis do mundo, pois abriga oito das 10 maiores montanhas do mundo.
Honestamente, a vida e estrutura urbana já eram bastante caóticas antes da tragédia e nem por isso o turismo deixava de crescer ano a ano. É um dos países mais pobres do mundo e sempre sofreu com problemas de falta de recursos e com sua topografia acidentada, gerando grande deficiência de infraestrutura. O terremoto que atingiu o país, destruindo parte de seu patrimônio histórico, não comprometeu toda a riqueza cultural e não afetou em nada as paisagens que têm atraído cada vez mais turistas. Baktapur, uma cidade milenar tombada pela UNESCO, já recebia recursos internacionais para sua preservação e teve aproximadamente 30% a 40% de seu casario destruído, mas o que restou de pé por si só já justificaria uma visita. Quem sabe o apoio internacional não se intensifica agora e o Nepal passa a receber mais recursos do que antes? Tenho esperanças de que em alguns anos as pessoas que já conheciam Kathmandu poderão se surpreender positivamente com o que virão depois da reconstrução.
Quanto tempo acha que vai demorar até que o turismo se restabeleça totalmente por lá?
A ajuda internacional chegou rapidamente e em menos de uma semana já havia um helicóptero trabalhando diariamente nas montanhas próximas à região do Everest, transportando tendas, mantimentos e roupas entre o aeroporto de Lukla e as vilas da região.
Na praça central de Baktapur, bem como em Kathmandu, nós encontramos tendas de missões de ajuda de vários países, e apesar da destruição de alguns importantes monumentos históricos, muita coisa permaneceu de pé e certamente se caracterizam como atrativos culturais de primeira grandeza, tendo capacidade de entreter os turistas e gerar satisfação.

Quanto tempo você indicaria esperar para alguém que tem o sonho de conhecer o Nepal viajar para lá?
Em geral, quem sonha ir para o Nepal tem como motivação principal a natureza e a possibilidade de caminhar pelas montanhas, e a grande maioria das vilas da região do Everest e do Annapurna (os dois principais focos de atração turística para trekking), apesar de terem algumas construções parcialmente comprometidas, estão em condições de receber turistas – haja visto que mesmo depois do tremor do dia 25/04, nosso grupo permaneceu mais 10 dias caminhando sem problemas. Acredito que a partir de outubro, o país estará pronto e ávido por receber turistas e a Venturas já esta restabelecendo a comercialização de seus pacotes para lá.
Em relação aos trekkings por lá, eles foram afetados de alguma forma pelo terremoto? Se sim, como? (Por exemplo, mudanças nos roteiros, destruição de vilas de pernoite, caminhos, segurança, etc)
As regiões mais procuradas e preparadas para trekking e turismo no Nepal são respectivamente Everest, Annapurna e Lang Tang. Das três, apenas a região de Lang Tang está comprometida, pois os estragos foram maiores.
A Venturas vai continuar promovendo as viagens de trekking pelo Nepal este ano e no próximo ou haverá alguma interrupção?
Além da campanha que estamos fazendo para ajudar na reconstrução das casas dos nepaleses que nos acompanharam, acreditamos que a maneira mais digna de ajudarmos na reconstrução do país é justamente incentivando e promovendo ainda mais a comercialização de viagens para a região.
Nós suspendemos nossos pacotes durante o mês de abril, mas já estamos retomando nossos produtos com força total. Algumas pessoas alegam o receio de novos tremores como justificativa para não visitar a região… No meu modo de ver, não há nada que indique ser mais ou menos arriscado fazer uma viagem para aquela região do que em qualquer outra. Não existe viagem sem risco, aliás, não existe vida sem risco e racionalmente pensando, me parece menos provável que outra acomodação de placas tectônicas possa ocorrer no Nepal em breve do que em outros locais onde a pressão dessas mesmas placas ainda não foi “aliviada.

Gostaria de falar algo mais sobre o assunto?
A Venturas assumiu o compromisso de ajudar a arrecadar fundos para a reconstrução das casas dos amigos nepaleses que tiveram suas moradias condenadas ou comprometidas. A ideia é focar os esforços em ações nas quais podemos acompanhar a correta aplicação dos recursos, bem como monitorar o andamento das obras.
Convidamos os interessados em participar voluntariamente desta iniciativa a fazerem suas doações na conta abaixo. A lista de doações com o total arrecadado será publicada em nosso site e página do Facebook. É MUITO IMPORTANTE que nos enviem o comprovante bancário da doação e nos avisem caso prefiram manter o anonimato. As doações devem ser depositadas na conta:
Venturas a Aventuras Viagens e Turismo Ltda.
Banco: Santander
Agência: 4721
Conta: 13000237-8
CNPJ: 71.613.061/0001-72
Enviar o comprovante por email para: nepal@venturas.com.br
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