Tem gente que é tão viajada, que dá pra passar o dia conversando sobre os lugares e pedindo dicas para planejar as próximas férias. Você deve conhecer gente assim. Uma dessas pessoas é o meu amigo Thiago Rodrigues. Ele já foi pra tudo que é lugar e, por isso, eu vivia enchendo o saco pedindo gentilmente que ele escrevesse aqui para o Viajadora. Esse dia chegou, e ele fez um post com dicas para quem quer ir conhecer uma das ilhas mais famosas e comentadas do planeta: Cuba. O resultado ficou melhor que o esperado, e a vontade é comprar a passagem agora! haha Dá uma conferida nas dicas dele e me diz se você também não ficou louco de vontade de conhecer a terra do Fidel.
“É difícil explicar aos amigos e familiares o porquê de decidirmos conhecer um país que vive um governo com traços de ditadura, pobreza generalizada, restrições gigantes de entrada de todo tipo de produtos e uma infraestrutura totalmente precária. Mais difícil ainda, é explicar como me apaixonei de tal forma que ao ver qualquer notícia na TV ou internet os meus olhos se enchem d’água. Conheci muitas cidades e países em vários continentes, mas Cuba foi de longe o mais peculiar de todos. Mergulhado num regime comunista “roots” com a figura “del comandante” estampada em cada esquina, a história está viva por onde se olha, desde as ruelas apertadas da região do casario colonial de Havana até os resorts de regime de administração mista de frente para o incrível marzão do caribe. Agora vou dividir com vocês um pouco da minha inesquecível história nessa mágica ilha caribenha.
Como chegar em Cuba
Cuba é a maior ilha do Caribe, com uma face voltada para o mar Caribenho e outra para o Atlântico Norte. A apenas 150km de distância da Flórida, parece um destino fácil e acessível pra nós brasileiros. Entretanto, por conta do embargo americano e da nossa malha aérea ‘inteligentíssima’, chegar em Havana não é das coisas mais simples e baratas. Não há voos diretos partindo do Brasil, apenas voos com conexões gigantes que desafiam a paciência.
As companhias aéreas que viajam para Cuba são:
- Taca – Conexão no Peru
- Avianca – Conexão em Bogotá
- Copa – Conexão no Panamá
Prepare-se pra voos de 10 ou mais horas com muito tempo nos aeroportos. Nós fomos via Peru, mais barato na época, mas os voos com melhores tempos de conexão costumam ser no Panamá.

Dinheiro em Cuba
Antes de falar do custo da viagem e os preços locais, vale uma pequena explicação sobre a economia criada por Fidel. Cuba ainda é um país comunista, ou seja, não há propriedade privada e todos os cidadãos deveriam viver sob o mesmo padrão de vida. Entretanto, com o fim da guerra fria e do subsídio soviético, Cuba mergulhou em um momento muito difícil em sua economia. Sem poder importar ou exportar nada, produtos de primeira necessidade ficaram escassos, agravando ainda mais a pobreza local. Dessa forma, o governo resolveu abrir suas portas ao turismo, que hoje é a principal fonte de riquezas para o país.
Para evitar o colapso do regime, o governo inventou um gatilho econômico para controlar o dinheiro circulante no país. Por causa disso, Cuba possui duas moedas: o Peso Cubado, dinheiro dos locais, e o Peso Convertido (CUC), dinheiro de turista. O CUC tem valor atrelado ao dólar, sendo que, por conta de taxas e birras locais, ele acaba valendo o equivalente a 1 euro. Já o peso cubano, em função da enxurrada de dinheiro vindo do turismo, se desvalorizou absurdamente, valendo menos que o papel em que foi impresso. Com os locais ganhando em peso cubano, o turismo se tornou uma chance de ter acesso a uma condição de vida um pouco melhor, então todos os moradores fazem algum tipo de “bico” com o turismo, por isso ir a Cuba se tornou uma viagem cara, nível Europa. Só para se ter ideia, uma refeição custa em média 20 CUC’s por pessoa e uma Coca-cola (sim existe Coca-cola por lá) em torno de 4 CUC’s.
Cuba: dicas gerais e importantes
- Ainda sob um forte embargo, alguns produtos simplesmente não existem na ilha em determinadas épocas do ano, portanto, leve tudo que for usar, inclusive papel higiênico, protetor solar, remédios em geral e etc.
- Não dê esmola para crianças, isso pode até gerar problemas pra elas. Se você ficou com pena de alguém e quiser agradar, dê doces, biscoitos, artigos de papelaria e etc.
- Havana é segura, mas tenha cuidado. Mantenha-se nas ruas principais e evite os becos; praticamente não há violência, mas turistas chamam atenção e você será abordado por todo tipo de gente pedindo coisas.
- Cuidado com falsificações de charuto e rum, compre sempre nas lojas recomendadas pelo seu hotel. Para os charutos recomendo a fábrica Patargás e o rum do museu do Rum.
- Leve Euros e não dólares. Como eu falei acima, o dólar tem muitas taxas, a cotação do euro é sempre mais vantajosa. Além disso, troque seu dinheiro no seu hotel. Não há casas de câmbio por perto. E esqueça seu cartão de crédito, é mentira que aceitam em algum lugar.
- Cuba não é um destino para compras, mas não deixe de comprar charutos e Rum, o Havana Club é muito bom e extremamente caro aqui no Brasil, então vale a pena trazer de volta algumas garrafas.

O Roteiro para conhecer Cuba
Optamos por passar o ano novo em Cuba, então tínhamos uma quantidade de dias limitados e nosso roteiro ficou bem corrido.
- Dia 1 – Havana
- Dias 2 a 4 – Cayo Largo
- Dias 5 a 7 – Havana
A capital de Cuba: Havana
Só de falar de Havana meus olhos enchem de água. Imagine uma cidade que parece ter sido destruída por uma guerra mas, ainda assim, as pessoas sorriem o tempo todo, andam pelas ruas apertadas, conversam entre si e adoram puxar assunto com qualquer um que pareça um turista. Tivemos 3 dias em Havana e conseguimos conhecer praticamente tudo, só ficamos devendo o Barrio Chino. Chamar uma cidade de museu a céu aberto é um pouco clichê, mas no caso de Havana a história é tão real que você se sente em um verdadeiro documentário. É muito interessante aprender história sob uma ótica que não está nos livros.
Visualizar Cuba em um mapa maior
Havana é bem pequena e fácil de se deslocar, mas o transporte público é inexistente e os carros são mais paisagem que qualquer outra coisa. As melhores formas de se locomover são os taxis, que você negocia o preço diretamente com o motorista, e os ônibus de turismo vermelhos (aqueles que você vê em qualquer cidade do mundo). Por conta do embargo, os carros em geral são MUITO velhos, aqueles Cadillacs da década de 50 que sabe-se lá como continuam lindos, brilhantes e ainda rodando, mas alguns taxis são bem novos e modernos, provenientes de algum acordo entre o governo e alguma montadora de fora do país.
O centro histórico de Havana é bem compacto e fácil de se conhecer a pé, você pode inclusive estender sua caminhada até a parte mais central de Havana, onde estão o capitólio e o Paseo de Martin. As atrações são:
Plaza de Armas e Calle Obispo – Arquitetura colonial, um dos lugares mais bem conservados de Havana. Lá é possível ver o Palácio de los capitanes Generales.

La bodeguita Del Medio – Um dos bares mais famosos de Cuba, frequentado por famosos como Ernest Hemingway, que inclusive deixou sua assinatura por lá. Vale a pena provar o Mojito, um dos melhores que eu tomei enquanto estive em Cuba, além de ouvir músicos locais tocando ao vivo.




Castillo de la Real Fuerza – Fortaleza voltada para o Atlântico, importante ponto de defesa do passado colonial Cubano, além de ponto de encontro de jovens para ver o mar.

Catedral de Havana – Linda arquitetura e deve ser igualmente bonita por dentro. infelizmente não conseguimos entrar porque estava fechada para reformas

Fábrica de Charutos Patárgas – Um dos melhores lugares para se comprar os famosos charutos cubanos. Cuidado com vendedores locais, é muito fácil comprar falsificações, então não arrisque.

El Capitólio – A sede do governo de Cuba, um prédio magnífico muito parecido com o capitólio americano. Infelizmente, quando fui estava fechado para reformas.

Paseo de Martin – Uma rua lindíssima que liga Havana Vieja até o capitólio, com muitos artistas de rua e o casaril antigo em volta, é um ótimo passeio fotográfico.

Plaza e Memorial de la Revolución Cubana – Aqui encontramos os ministérios cubanos com os rostos dos líderes da revolução. No prédio do ministério das comunicações podemos ver a famosa silhueta de Che Guevara.

Casa de Che – Aqui, um pouco distante do centro, no alto de uma colina, podemos ver a última moradia de Che em cuba, além de ver onde ficavam os mísseis balísticos soviéticos que causaram tantos problemas com o governo americano. Como fica no alto, tem-se uma vista panorâmica incrível da cidade.



Malecón – Via costeira de onde se pode ver a parte mais antiga de Havana, é uma experiência incrível caminhar por lá, com as ondas batendo na lateral e jogando água na pista. Em alguns pontos podemos ver os locais pulando no mar ou pescando.

Hotel Nacional – O “Copacabana Palace” de Cuba. Fiquei hospedado nele e achei que valeu a experiência. A história do hotel é muito peculiar: construído por gangsters americanos para lavagem de dinheiro, foi tomado pelo governo e serviu como QG revolucionário. Hospedou diversos líderes políticos, artistas famosos, empresários e etc. Aqui também acontecem apresentações regulares do Buena Vista social Club. Com um jardim lindíssimo, aconselho ir ao bar ao lado da piscina onde encontramos uma galeria de fotos dos famosos hospedados no hotel além de possuir um maravilhoso Mojito e charutos com preço bem em conta para consumo na hora.


Museu do Rum – Ir a Havana e não provar Mojito é como visitar o rio e não tomar uma caipirinha. Aqui pode-se conhecer a história do Rum cubano e de sua importância para a economia, além de comprar várias garrafas do maravilhoso Havana Club, as garrafas variam de 7 CUCs a alguns milhares, dependendo do tempo de envelhecimento em carvalho ou exclusividade da mistura.

Museu da Revolução – Para quem gosta de história, aconselho gastar algumas horas aqui, apesar do visual tosco da exposição, às vezes lembrando exposições escolares com cartazes desenhados na cartolina. Ela conta a história da revolução e de seus líderes de uma maneira extremamente didática e interessante, e também é possível ver alguns artigos militares, como armas e veículos.


La Floridita – Um dos pontos muito frequentados pelo escritor Ernest Hemingway, esse bar diz ter inventado o famoso Daiquiri. Provei e recomendo, muito bom para ir à noite, mas espere por filas.

Cayo Largo
Antes de falar de Cayo Largo, gostaria de dizer por quê escolhemos esse destino em Cuba. A maioria dos blogs e turistas que consultei falavam em Varadero como sendo o destino caribenho em Cuba mais famoso, mas olhando o mapa, vimos que Varedero não fica voltado para o mar do Caribe. Apesar de ter praias azuis, Varadero não possui a transparência e tonalidade comuns das praias do Caribe, por isso decidimos encarar a jornada até Cayo Largo.
A própria ida para Cayo Largo é uma aventura em si. A companhia aérea que faz a rota Havana – Cayo Largo é a charmosa Aerogaviota. O voo sai de um pequeno aeroporto em Havana. Esse aeroporto merece comentários: é uma casinha na beira da pista – melhor que descrever é mostrar as fotos:

No aeroporto de Havana não tem nada automatizado, as bagagens são pesadas numa balança de farmácia e ficam num cantinho para serem recolhidas pelo trator que as leva para o avião. A sala de embarque parece a antessala de um consultório, com uma TV antiga de tubo e algumas poucas cadeiras. O embarque é feito na pista mesmo, e o avião… ah, o avião, esse é sensacional! Um avião de transporte de passageiros da segunda guerra mundial, ainda no modelo turbo-hélice. O voo em si foi muito tranquilo e sem nenhum susto, até tinha serviço de bordo, mas foi uma experiência um tanto quanto peculiar. Já em Cayo Largo o aeroporto é outra história, bem melhor estruturado, inclusive com suporte a aviões maiores. De lá saem voos diretos de Roma, Paris e algumas cidades do Canadá.

O processo de chegada e retirada das malas foi rápido e organizado. De lá um transfer nos levou a nosso resort. Ficamos no Solar Pelicano, mais um hotel do grupo Meliá, administrado metade pelo governo e metade pelo grupo espanhol. A estrutura é padrão Caribe, com piscina, bares, e restaurantes temáticos, só que do jeitinho cubano, ou seja, produtos de origem um tanto quanto duvidosa, quartos muito simples e com roupa de banho e cama mais humildes, mas nada que atrapalhasse a experiência e a diversão. Mas a comida tenho que ressaltar era muito ruim, tanto nos restaurantes temáticos quanto no buffet, só tinha uma pizzaria que era nossa salvação, comemos lá quase todos os dias.

O que fazer em Cayo Largo
Cayo Largo é uma ilhota boiando no mar do Caribe, mas um lado da ilha é voltado para o mar aberto e o outro tem a proteção da ilha de Cuba. O lado de mar aberto tem as praias com a água um pouco mais agitadas e escuras (mas ainda assim é Caribe). Ah, um detalhe muito importante é de que a praia privativa do hotel, assim como a maioria das praias de Cayo Largo, é naturista, então não se espante se cruzar com gringos pelados a qualquer momento, mas as indicações de onde começam ou terminam os trechos de nudismo não são muito claras.
Saindo do hotel pega-se um simpático “trenzinho” que leva até o porto de Cayo Largo, uma vila onde encontramos algumas barraquinhas de artesanato e um porto/restaurante/boate de onde saem os barcos para as praias do outro lado da ilha. A hospedagem no hotel dá direito ao transfer gratuito, sendo que outros passeios são cobrados por fora. Do porto se chega à praia Sirena, a praia mais linda que já vi na vida, com água azul piscina, areia branca e praticamente deserta.


Além da praia, fizemos um passeio de meio dia que é o básico da ilha. Ele sai da praia Sirena e inclui uma ida às piscinas naturais (lindíssimas, com água completamente transparente), visita a Cayo Iguana (uma reserva onde podemos ver iguanas selvagens) e a volta para a Praia Sirena. O passeio dava direito a bebidas e só, levamos algumas comidas e comemos no hotel.
Esse foi basicamente um resumo da minha viagem e do meu roteiro, que funcionou muito bem e recomendo. Mas seja qual for o roteiro que você fizer por lá, Cuba é um lugar incrível e que vale a visita. Acredito que com a abertura e a aproximação com os EUA algumas coisas devem mudar, mas o espírito, a animação e modo único de enxergar o mundo dos cubanos deve perdurar por algumas gerações ainda.”



SOBRE O AUTOR:
Thiago Rodrigues é carioca, publicitário, viciado em viajar e nas horas vagas mantém um blog de culinária (o Gourmeiatigela). Com 25 países e mais de 50 cidades no currículo, Thiago e sua mulher, Camila Carneiro, acreditam que ostentação mesmo é ter o passaporte cheio de carimbos. “O nosso objetivo é sempre ter a próxima viagem marcada”, diz ele.
[…] Cuba: Ideia de roteiro e o que você precisa saber para visitar (e se apaixonar!) […]
Bom dia
Poderia dar mais detalhes da viagem… por exemplo custos.
Obrigada
Uau, sensacional relato!!
Uma dúvida: como fez pra comprar o trecho Havana – Cayo Largo?? Na hora mesmo ou daqui do Brasil? E quanto custou??
Oi, Thiago,
Conversei com o Thiago, que foi quem escreveu este relato, e ele me disse que este trecho estava incluído no pacote da agência de turismo que ele fechou. De qualquer maneira ele viu pessoas comprando na hora no “aeroporto” (está entre aspas porque segundo ele o aeroporto é mínimo) no guichê da Aerogaviota. Boa sorte e boa viagem! :** Bjs!
Show, Mariana! Obrigado pelo retorno!!
Bjs!
Qual a agencia de turismo que utilizaste?
Sempre acompanho seu blog e esse ano usei varias dicas da Tailândia. Vou me casar e estou pesquisando destinos para lua de mel, minha pergunta ‘e em relação a valores… Inicialmente pesquise Maldivas, mas cerca de 40 mil casal achei um pouco elevado. Vc acha que Cuba/Jamaica/Bahamas ou Egito/Africa/Israel seria destinos que dariam pra ser agrupados? Quanto sera que se gasta, sem luxos? Super obrigada! Beijos, Ane
Adorei o post ! Semana que vem estarei lá !
Olá, Cassiana! Adoro o blog! Vou para Cuba agora em Março e pretendo ir para Havana, Varadero e Cayo Largo. gostaria de informações de como me deslocar entre essas cidades. Pensei em chegar em Havana, ir para Cayo Largo, depois Varadero e voltar para Havana. É possível essa logística? Como devo fazer (aéreo, terrestre, etc)?
Outra coisa, quero ficar 5 dias nas praias (Cayo Largo e Varadero), seria melhor 3 dias em Cayo Largo e 2 em Varadero ou vice-versa?
Muito obrigada pelas dicas e boas viagens para nós!