Depois de três dias cruzando a paisagem semi-árida do Jalapão, encarando a estrada esburacada e o calor do Tocantins, finalmente havia chegado a hora mais aguardada da expedição: a de dar um “até logo” ao caminhão Mamute e começar o rafting pelo Rio Novo. Era possível sentir no ar o clima de empolgação: estávamos prestes a começar a maior expedição de rafting comercial do Brasil, percorrendo 60km por um dos últimos rios de água totalmente potável no país.
Jalapão: amanhecer na praia do Liliu
O mais interessante de se chegar a um lugar à noite, sem conseguir ver nada direito por causa da escuridão, é a surpresa que se tem quando amanhece e tudo está completamente diferente. Uma das minhas lembranças mais preciosas dessa viagem foi a de, às 5 da manhã, abrir a porta da barraca e dar de cara com o rio todo brilhoso e iluminado pelos primeiros raios de sol. Para quem só tinha visto a água a alguns palmos de distância e iluminada pela luz fraca da lanterna na noite anterior, foi surpreendente ver como o rio era extenso e límpido e como a prainha em que estávamos era tão bonita. Havia barulho de pássaros de muitos tipos e, no ar, aquele cheiro inconfundível de orvalho, mato e ar puro que é tão difícil explicar, mas que quando a gente sente não esquece nunca mais.


Quando acordamos os guias já estavam de pé há tempos para tirar tudo do caminhão e arrumar os barcos para o rafting. O café já estava servido e, depois de uma refeição bem farta para garantir a energia necessária para o primeiro dia de remada, era a hora de todos arrumarem suas coisas para começar a viagem rio abaixo.


A preparação para o rafting
Como não há espaço suficiente nos barcos para levar todos os pertences de todo mundo, é preciso fazer uma seleção do que será utilizado no rafting e do que deve ficar dentro das mochilas guardadas no caminhão. Para isso, cada dupla ganha um saco estanque para dividir e um saco de tecido individual para guardar suas coisas. Esses sacos são à prova d´água, muito bem fechados e seguros para garantir que tudo fique seco mesmo que o barco vire. E embora pareçam pequenos à primeira vista, são mais do que suficientes para guardar as duas mudas de roupa, a toalha e a roupa de banho que será usada durante o trajeto.

O grupo todo, de 14 pessoas, foi dividido em três botes, cada um liderado por um dos seis guias. Foram eles que escolheram quem ficaria em cada bote, por questões de peso e temperamento, mas levando em consideração a perspectiva de que os grupos que viajaram juntos ficassem juntos. Os outros três guias que sobraram iriam em caiaques e no cata-raft, um tipo diferente de barco guiado por só uma pessoa e carregado com boa parte das barracas, comidas e outros detalhes da infraestrutura da expedição. No nosso bote ficamos eu, Mari, Paula e o Aurélio e a Mildes, um casal carioca bem simpático, e seguimos juntos durante os três dias com o Dudu, nosso guia super fofo de Santa Catarina, que assim como a gente, estava fazendo aquele percurso pela primeira vez.

Foi aquela correria para arrumar os botes e guardar o resto das coisas no caminhão para sairmos logo. E quando estava tudo pronto, os guias colocaram todo mundo numa grande roda para dar as orientações necessárias em relação à remada, segurança e demais procedimentos da viagem ao longo dos próximos dias. Muita gente ali nunca havia remado antes e, mesmo assim, as instruções foram tão claras que todos saíram bem confiantes e animados para começar a aventura.

Rafting: O primeiro dia de remada
O primeiro dia do rafting é bem tranquilo, com longos trechos planos e umas três corredeiras pequenas, de nível 1 e 2. Durante os trechos planos a remada cansa um pouco, mas mesmo assim é divertido porque o pessoal vai conversando e pulando do bote para se refrescar e nadar um pouco, uma delícia. E como o rio é potável, sem casas nem despejo de resíduos por uma longa extensão, dá para nadar e beber água ao mesmo tempo. Eu nunca tinha mergulhado em lugar nenhum tão limpo a ponto de poder fazer isso, é bom demais!

Os botes todos ficam bem próximos um do outro durante todo o percurso, e de vez em quando há uma interrupção na remada para a hora mais aguardada depois de tanto exercício: comer biscoito recheado, porque remar dá uma fome do cão da moléstia. haha
E por falar em comer, o almoço é feito em prainhas no caminho, e é carinhosamente chamado de “almolanche”, por ser mais um lanche do que almoço. Confesso que fiquei meio desesperada quando soube dessa história de almolanche, porque meu negócio é almoção, com feijão, arroz, carne e sustância em grandes quantidades, e por isso tive medo de passar fome e ficar muito incomodada durante o dia. Mas a verdade é que o almolanche é bem farto e satisfaz o suficiente para dar energia para remar e esperar o jantar, sem deixar a gente empanzinada no calor como um almoço convencional talvez fizesse.
Jalapão: A chegada à Praia das Cariocas
Depois de uma corredeira de nível 2, por volta das 16h, os botes chegam na Praia das Cariocas, onde a gente monta o acampamento para o pernoite. Nenhuma combinação de palavras que a gente usar aqui, nem qualquer foto que colocarmos, vai ser suficiente para explicar como aquele lugar é lindo e a energia que se sente quando se está lá. Só você indo para ver e sentir mesmo.



É uma praia relativamente pequena, com uma extensão de areia muito fina e dourada, às margens de um trecho de rio calmo próximo a uma pequena corredeira, cercada de buritis e muitas outras plantas. A luz dourada do sol do final da tarde deixava tudo ainda mais bonito, com um aspecto mágico de natureza intocada. Posso dizer tranquilamente que aquele foi um dos espetáculos de por do sol mais lindos que já vi, e ficou melhor ainda porque aproveitamos até o último raio para curtir a água morninha e deliciosa do rio.




Os guias armaram uma fogueira no centro da praia para o pessoal ficar sentado em volta conversando sob o céu totalmente estrelado enquanto eles preparavam o jantar, que foi ainda mais surpreendente e delicioso do que o da noite anterior. Mais uma vez não vamos descrever aqui para não estragar a surpresa, mas posso, com toda certeza, dizer que comi melhor nesse acampamento selvagem do que como na minha casa se bem que isso também não é lá muito difícil. haha Não consigo pensar em um jeito mais perfeito de encerrar um dia tão bom do que esse acampamento na praia das Cariocas, dormindo na areia, à luz das estrelas e ouvindo o barulho suave dos grilos e da corredeira ao fundo, algo que quero guardar na minha memória para sempre.


Aqui vai um videozinho que dá pra ter uma ideia do clima da preparação do jantar na Praia dos Cariocas:
Confira nossos outros posts sobre a Expedição Jalapão:
Jalapão – Uma visão geral sobre a expedição
1° dia da Expedição Jalapão: muito chão e o pôr-do-sol na Serra do Gorgulho
2° dia da Expedição Jalapão Venturas: Cachoeira do Formiga e povoado do Mumbuca
3° dia da Expedição Jalapão: Fervedouro do Ceiça e pôr-do-sol nas dunas
5° dia da Expedição Jalapão Venturas: Rafting com corredeiras nervosas, uhul!
Último dia da Expedição Jalapão Venturas: Cachoeira da Velha e as corredeiras mais radicais
[…] (Leia tudo sobre esse dia no post 4° dia da Expedição Jalapão: O início do rafting pelo Rio Novo) […]
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